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TDAH

TDAH

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno comportamental, caracterizado por sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade.

Estudos nacionais e internacionais situam a prevalência do TDAH entre 3% e 6%, o que significa que, na média, há uma ou duas crianças com TDAH em cada sala de aula.

Como a doença muitas vezes pode resultar em comportamento conturbador em sala de aula, o TDAH é identificado frequentemente pela primeira vez na escola.

Antigamente era conhecido como “Disfunção Cerebral Mínima“, e mais tarde passou a chamar-se “Síndrome Infantil da Hiperatividade“. Só nos anos 70, com o reconhecimento da ausência de controle de impulsos e do componente do deficit de atenção, passou então a ter a denominação a qual perdura até os dias de hoje.

Ao contrário do que se pensava, o TDAH não é superado na adolescência. Os sintomas, em alguns casos parecem ser minimizados nesta fase pelo fato de algumas pessoas desenvolverem estratégias para lidar com essa condição, e dessa maneira acabam por atenuar os sintomas. Porém cerca de 65% das crianças diagnosticadas como portadoras do Transtorno, continuam com os sintomas ao atingirem a idade adulta.

Apesar de não haver exames de imagem que comprovem a existência do Transtorno, é consenso da comunidade científica a existência do mesmo.

Estudos apontam a predisposição genética e a ocorrência de alterações nos neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) que estabelecem as conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro como as principais causas do Transtorno do Déficit de Atenção. Algumas pesquisas indicam que fatores ambientais e neurológicos podem estar envolvidos, mas ainda não há consenso sobre o assunto.

Os sintomas do TDAH geram reflexos negativos no convívio social e familiar, assim como no desempenho escolar ou profissional dos portadores do transtorno. Esses sintomas podem manifestar-se em diferentes graus de comprometimento e intensidade.

Quando predomina a desatenção, os pacientes apresentam dificuldade maior de concentração, de organizar atividades, de seguir instruções e podem saltar de uma tarefa inacabada para outra sem nunca terminar aquilo que começaram. São pessoas que se distraem com facilidade e frequentemente esquecem o que tinham para fazer ou onde colocaram seus pertences. Não conseguem também prestar atenção em detalhes, demoram para iniciar as tarefas e cometem erros por absoluto descuido e distração, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem e a atuação profissional.

Nos casos em que prevalece a hiperatividade, os portadores do distúrbio são inquietos, agitados e falam muito. Dificilmente conseguem participar de atividades sedentárias e manter silêncio durante as brincadeiras ou realização dos trabalhos. Se é a impulsividade que se destaca os sinais mais marcantes são a impaciência, o agir sem pensar, a dificuldade para ouvir as perguntas até o fim, a precipitação para falar e a intromissão nos assuntos, conversas e atividades alheias.

Na adolescência e na vida adulta, os sintomas de hiperatividade costumam ser menos evidentes, mas as outras dificuldades permanecem inalteradas e os prejuízos se acumulam no dia a dia com reflexos negativos sobre a autoestima.

Diagnóstico

Para efeito de diagnóstico, que é sempre clínico, os sintomas devem se manifestar na infância, entre seis e nove anos de idade, pelo menos em dois ambientes diferentes (casa, escola, lazer, etc.), durante seis meses, no mínimo. Devem também ser responsáveis por desajustes e alterações comportamentais que dificultam o relacionamento e a performance dos portadores nas mais diversas situações. Avaliações precipitadas podem dar origem a falsos positivos que demandam a indicação desnecessária de medicamentos.

Tratamento

O tratamento varia de acordo a existência, ou não, de comorbidades ou de outras doenças associadas. Basicamente, consiste em psicoterapia e na prescrição de metilfenidato, um medicamento psicoestimulante, e de antidepressivos. Crianças podem exigir os cuidados de equipe multidisciplinar, em função dos desajustes pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH.

Em geral, os efeitos benéficos da medicação aparecem em poucas semanas e as reações adversas – insônia, falta de apetite, dores abdominais e cefaleia – são leves e ocorrem no início do tratamento, enquanto o organismo não desenvolveu tolerância a essas drogas.

Recomendações

É importante admitir que:

* as falhas de atenção e a hiperatividade de algumas crianças podem não ser características do temperamento e personalidade, nem de má educação, mas sintomas de uma doença que pode ser controlada;

* não é má vontade, mas os portadores do Transtorno realmente têm enorme dificuldade para organizar as atividades do dia a dia, manter horários e planejar o futuro;

* a necessidade de desenvolver algumas técnicas para compensar as dificuldades próprias da TDAH (uso de agenda, lugar fixo para guardar os objetos, lembretes colocados em posições estratégicas e em quadros de avisos, lista de tarefas e dos compromissos diários e semanais) exige muito esforço e disciplina;

* pais e professores devem manter-se informados sobre as características da doença e intervenções que podem ajudar os pacientes a superar suas limitações;

*a psicoterapia pode representar um caminho eficaz para a recuperação da autoestima, quase sempre comprometida pelos sentimentos de fracasso e frustração provenientes das dificuldades de lidar com situações rotineiras.

Sabemos que a maioria dos pais já ouviu falar em TDAH. Mas não devemos esquecer que a maioria deles, quando ouve esse termo lembra, com freqüência, de um menino pequeno e agitado. Dificilmente alguém pensa numa menina.

Isto acontece porque a maior parte dos meninos com TDAH é facilmente identificável, seja na sala de aula, seja no lazer e, com mais freqüência, são levados para uma avaliação. Por outro lado, a maior parte das escalas e questionários de avaliação enfatizam os aspectos da hiperatividade, da impulsividade e do comportamento desafiador, que são fatores típicos dos meninos. Diante disso, apenas as poucas meninas que são parecidas com esses meninos, em termos de comportamento, é que são levadas a alguma avaliação médica ou psicológica.

Com isso, muitas meninas não estão sendo diagnosticadas porque seus sintomas se mostram diferentes. Uma grande diferença é que as meninas são menos rebeldes, menos desafiadoras, em geral menos “difíceis ” que os meninos. Mas “ser menos difícil” em vez de ajudar, acabou só dificultando o reconhecimento do problema.

Quando meninos causam frequentes problemas com a disciplina, em casa ou na escola, rapidamente se procura uma orientação. As meninas, por serem mais cordatas, dificilmente são identificadas. E assim ficam prejudicadas em vários aspectos de suas vidas.

Ainda assim, as meninas com TDAH não são todas iguais. Quando seu comportamento é parecido com o TDAH em meninos, o reconhecimento é mais fácil. Mas mesmo as que são do tipo Misto ou do tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo, nem sempre são tão parecidas com os meninos. E é aí que elas ficam sem diagnóstico.

“Meninas Levadas” com TDAH

Frequentemente as meninas hiperativas são “levadas“. São fisicamente ativas, com inclinação para atividades mais arriscadas como subir em árvores, exploração e brincar com os irmãos ou com os meninos da vizinhança. Podem gostar de futebol, natação ou andar a cavalo e, na maioria dos casos, são menos atraídas pelas atividades consideradas “femininas“. Mas, diferentemente dos meninos com TDAH, essas meninas são mais cooperativas em casa e podem se esforçar muito para agradar os professores na escola. A caligrafia pode ser ruim, são frequentemente desorganizadas, quase sempre estão atrasadas e seu quarto é uma bagunça. Mas em vez de suspeitarem de TDAH, pais e professores as vêem apenas como indisciplinadas e pouco inclinadas para o estudo.

“Sonhadoras” com TDAH

As meninas com o tipo Predominantemente Desatento são frequentemente sonhadoras e tímidas. Sua desatenção pode passar desapercebida na escola porque elas se esforçam muito para não chamar a atenção sobre si mesmas. Muitas meninas “quietinhas” com TDAH parecem estar ouvindo seus professores, enquanto suas mentes divagam a milhas de distancia dali. Essas meninas sempre parecem ansiosas em relação a escola. Podem ser esquecidas e desorganizadas em relação ao dever de casa e ficam preocupadas quando as datas de entrega de trabalhos se aproximam. Podem ir para o quarto fazer o dever de casa e ficar sentadas sonhando em silencio até que se assustam com alguém entrando. Podem parecer facilmente sobrecarregadas e operar em “marcha lenta“. Algumas são ansiosas ou depressivas e são vistas erradamente como menos inteligentes do que realmente são.

“Faladeiras” com TDAH

Um terceiro tipo é a combinação dos tipos Hiperativo e Desatento. Apesar de terem um nível de atividade muito mais alto que as “sonhadoras“, elas não são necessariamente “levadas“. É comum serem mais faladeiras, mais tagarelas do que propriamente hiperativas. Costumam ser excitáveis e muito emotivas. Quase sempre conversam em sala de aula e tem dificuldade em ficar quietas mesmo quando são disciplinadas quanto ao falar. Às vezes tem dificuldade em narrar um fato, uma história ou contar um filme porque com freqüência esquecem detalhes, voltando a narrativa e confundindo o ouvinte. Ou seja, o discurso é muito confuso porque têm dificuldade em organizar seus pensamentos antes de começar a falar. Apesar disso, podem também exercer papel de líder. Elas são ativas, falantes e gostam de estar por perto, no meio do movimento. Suas amizades podem ser mais dramáticas, repletas de reações exageradas e discussões. Essas meninas podem adotar uma personalidade superficial, fútil, para disfarçar a desorganização e o esquecimento. Na adolescência podem compensar a pobre performance acadêmica tornando-se muito populares e correndo riscos de se viciarem em álcool, cigarros e drogas, como também iniciarem a vida sexual ativa mais cedo.

Meninas muito inteligentes com TDAH

Pode ser mais difícil descobrir quando meninas muito inteligentes têm TDAH. Quanto mais brilhante, mais tardiamente os problemas acadêmicos tendem a aparecer. Muitas meninas com QI  (Coeficiente de Inteligência) acima da média podem manter-se academicamente bem até chegarem ao nível secundário, ou mesmo à faculdade. À medida que a vida escolar se torna mais exigente e complicada nos níveis superiores, seus problemas com a concentração, organização e conclusão tem maiores probabilidades de aparecer.

Portanto, se seu filho, filha, sobrinho, sobrinha ou qualquer outra criança que você mantenha contato e que esteja na faixa etária propicia para o diagnóstico, esteja manifestando sintomas que se assemelham aos citados aqui, procure um Médico Psiquiatra que a encaminhará, caso necessário, à um profissional que trabalhe com o método de Psicoterapia mais adequado ao tratamento da TDAH, na hipótese da doença ter sido devidamente diagnosticada.

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Psicoses

Autor:    Dr. Eduardo Sörensen Ghisolfi –  CRM  25101  RS

O termo Psicose tradicionalmente significa a perda do teste da realidade e comprometimento do funcionamento mental, manifestando-se por delírios, alucinações, confusão e comprometimento da memória. No decorrer desta segunda metade do século, dois outros significados se agregaram ao conceito original.

Na utilização psiquiátrica mais comum do termo, “psicótico” pode significar também um comprometimento grave do funcionamento social e pessoal, caracterizado por retração social e incapacidade para desempenhar as tarefas e papéis habituais. Outro uso do termo é, às vezes, encontrado para especificar o grau de regressão egoica como critério para uma doença psicótica.

De acordo com o glossário da Associação Norte-Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association), o termo psicótico refere-se a um amplo comprometimento do teste da realidade. Pode ser utilizado para descrever o comportamento de um indivíduo em um determinado momento, ou um transtorno mental no qual, em algum momento do seu curso, todos os indivíduos com o transtorno apresentem tal prejuízo no teste da realidade.

Falar em comprometimento do teste da realidade significa que o indivíduo avalia incorretamente a acuidade das suas percepções e pensamentos, realizando inferências incorretas acerca da realidade externa, ainda que em face de evidências contrárias.

Contudo o termo psicótico não se aplica a distorções menores da realidade que decorram de juízo relativo. Por exemplo, uma pessoa deprimida que subestima suas conquistas e qualidades não deveria ser considerada psicótica, enquanto aquela que julga ser culpada de uma catástrofe natural, sim.

A evidência direta do comportamento psicótico é a presença de delírios ou alucinações sem discernimento de sua natureza patológica. Às vezes o comportamento pode estar tão amplamente desorganizado que se pode, a priori, inferir um prejuízo importante do teste da realidade, quando a fala é amplamente incoerente e o indivíduo, em geral agitado, não demonstra notar a incompreensibilidade do seu discurso.

É possível que indivíduos com transtorno mental não-psicótico venham a exibir, embora mais raramente, sintomas psicóticos. Tal fato pode ser encontrado, por exemplo em transtornos graves do humor. Neste caso há necessidade de especificar, assim por exemplo: depressão com psicose.

No DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os transtornos psicóticos incluem os transtornos invasivos do desenvolvimento, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno esquizoafetivo, transtorno delirante, transtorno psicótico breve, transtorno psicótico compartilhado, transtorno psicótico devido a uma condição médica geral, transtorno psicótico induzido por substância e transtorno psicótico sem outra especificação.

É importante lembrarmos a diferença entre síndrome e transtorno. Síndrome é uma condição que se caracteriza por uma coleção de sinais e sintomas com certa correlação, com uma certa homogeneidade, mas que, contudo, apresenta certas variações importantes. Podemos falar numa síndrome psicótica que é caracterizada pelas alterações básicas descritas nesta introdução e que engloba por sua vez vários transtornos ou doenças, que apresentam as características básicas da síndrome mas que diferem entre si com relação a outros critérios, digamos assim, secundários, como tempo de duração, concomitância de sintomas de outras síndromes, fatores e nexos causais, ou mesmo características mais particulares.

SITUAÇÕES QUE SUGEREM UMA SÍNDROME PSICÓTICA: (como quadro principal ou concomitante)

  • Surgimento mais ou menos súbito de evidentes perturbações da sensopercepção (alucinações de qualquer tipo), particularmente quando acompanhadas de alterações do conteúdo do pensamento (idéias delirantes) e do curso do pensamento (incoerência na organização das idéias), com desorientação no espaço e no tempo, em relação à outras pessoas e quanto à própria pessoa;
  •  Desconfiança exagerada, isolacionismo, marcado desinteresse pelas atividades sociais, hostilidade e agressividade;
  •  Humor triste acentuado, insônia, idéias e tentativas de suicídio, descuido da higiene pessoal, emagrecimento, idéias de ruína e auto-acusação;
  • Humor eufórico, insônia, excitação ou agitação psicomotora, idéias ou planos grandiosos, loquacidade extrema;
  •  Marcado alheamento quanto ao mundo externo, com nítido predomínio do mundo interno; embotamento afetivo, conduta bizarra ou estranha.

 

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NAS MANIFESTAÇÕES PSICÓTICAS:

Antes mesmo de mencionarmos os transtornos definidos pelo DSM-IV na respectiva seção, é necessário que conheçamos alguns outros conceitos, que são fundamentais para auxiliar o raciocínio diagnóstico, para que tenhamos uma definição operacional de termos correntemente utilizados:

Psicose (pode-se ler Síndrome Psicótica): nítido prejuízo do teste da realidade evidenciado por delírios, alucinações, pensamento incoerente. Nítido afrouxamento das associações, pobreza do conteúdo do pensamento, pensamento nitidamente ilógico, conduta bizarra ou grosseiramente desorganizada, ou ainda catatônica.

Síndrome Cerebral Orgânica (alucinose ou delirium e outras): havendo Psicose e fator orgânico conhecido pela história e/ou exames complementares ou história de abuso de substâncias psicoativas.

Simulação de Psicose: sintomas sob o controle voluntário e com objetivos obviamente reconhecíveis.

Transtorno Factício/Pantomimia, Síndrome de Münchausen: objetivos não reconhecíveis, mas sintomas sob controle voluntário, como na simulação.

 

CLASSIFICAÇÃO: (segundo o DSM-IV)

a) Transtorno Esquizofrênico: é uma perturbação em que a psicose dura pelo menos 6 meses, incluindo pelo menos 1 mês de sintomas da fase ativa (que se caracteriza pela presença de dois ou mais dos seguintes critérios: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Implica em um desempenho prejudicado das atividades do dia-a-dia (escolares, domésticas e do trabalho); ausência de síndrome depressiva ou maníaca completa (caso uma síndrome afetiva, geralmente depressiva, esteja presente, ela se desenvolveu após o surgimento dos sintomas psicóticos, ou então que a duração desta seja menor do que a da síndrome psicótica). Algumas alucinações específicas são muito sugestivas (em especial as auditivas), o afeto costuma estar embotado, e outros sintomas negativos podem estar presentes;

b) Transtorno Esquizofreniforme: é semelhante à esquizofrenia, porém com duração mais curta (de 1 a 6 meses) e não exige uma deterioração funcional tão acentuada quanto a esquizofrenia;

c) Transtorno Esquizoafetivo: é um diagnóstico de exceção, quando realmente não puder ser feito o diagnóstico diferencial entre esquizofrenia e transtorno afetivo maior com manifestações psicóticas, sendo uma perturbação na qual um episódio de humor e sintomas da fase ativa da esquizofrenia ocorrem juntos, precedidos ou seguidos de pelo menos duas semanas de delírios ou alucinações sem sintomatologia proeminente de humor;

d) Transtorno Delirante: delírios persecutórios, de ciúmes, hipocondríacos, somáticos, grandiosos, erotomaníacos ou outros. Os delírios não devem ser bizarros e devem durar pelo menos 1 mês, sem outros sintomas da fase ativa da esquizofrenia (não costuma haver alucinações e, se presentes, não são proeminentes. Também não há incoerência do pensamento ou afrouxamento das associações). O afeto está de acordo com o conteúdo do pensamento (desconfiança, raiva e hostilidade).

e) Transtorno Psicótico Breve: é uma perturbação psicótica que dura pelo menos 1 dia e tem remissão dentro de 1 mês, devida ou não a um importante fator desencadeante ambiental (morte de familiar significativo, importante mudança sócio- ocupacional, etc.) ou também com início no período pós-parto.

f) Transtorno Psicótico Compartilhado (folie à deux): o delírio desenvolve-se em um indivíduo no contexto de um relacionamento próximo com outro indivíduo que também apresenta o delírio, e na ausência de outro distúrbio psicótico (esquizofrenia ou transtorno de humor com sintomas psicóticos).

g) Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral: como o próprio nome diz, os sintomas psicóticos são considerados como decorrentes de uma condição médica geral.

h) Transtorno Psicótico Induzido por Substância: os sintomas psicóticos são considerados uma conseqüência fisiológica direta de uma droga de abuso, medicação ou exposição a determinada substância.

i) Transtorno Psicótico sem Outra Especificação: é uma categoria incluída para classificar os quadros psicóticos que não satisfaçam os critérios para as condições vistas acima, ou então para aquelas sobre as quais não existam informações em quantidade e qualidade necessárias para o diagnóstico.

CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS SOBRE A ESQUIZOFRENIA:

Também a esquizofrenia pode ser vista como uma Síndrome, já que engloba várias manifestações ligeiramente diferentes da condição básica. Assim, a expressão “Transtornos Esquizofrênicos” é mais adequada para representar um grupo de condições de diferentes etiologias. Acredita-se que múltiplos caminhos etiológicos possam ser responsáveis pelo fenótipo da Síndrome, sendo reconhecido o fator genético como o principal fator de risco para a condição (o risco populacional é de cerca de 1%, que é aproximadamente a sua prevalência, não variando muito geograficamente e mantendo-se relativamente constante ao longo de várias décadas, enquanto o risco da morbidade para um familiar de primeiro grau se encontra aumentado de 5 a 50 vezes; estudos com gêmeos mostram uma concordância de 10 a 19% para os dizigóticos e de 35 a 48% para os monozigóticos). Os fatores ambientais também se fazem presentes. Acredita-se que injúrias no período embrionário e também no período perinatal possam estar associadas à etiologia da esquizofrenia. Há uma maior prevalência de esquizofrenia nas classes sociais inferiores, o que pode ser tanto causa como conseqüência da doença.

Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser agrupados em positivos (floridos ou produtivos) e negativos (déficits). Os sintomas positivos são alucinações auditivas (mais frequentemente as táteis, visuais e olfativas são mais raras), delírios (persecutórios, de grandeza, de ciúmes, somáticos, místicos, fantásticos), perturbações da forma e do curso do pensamento (como incoerência, tangencialidade, desagregação e falta de lógica), comportamento desorganizado, bizarro, agitação psicomotora e mesmo negligência dos cuidados pessoais. Os sintomas negativos são pobreza do conteúdo do pensamento e da fala, embotamento ou rigidez afetiva, sensação de não conseguir sentir prazer ou emoções, isolacionismo, ausência ou diminuição de iniciativa e de vontade, falta de persistência em atividades laborais ou escolares e déficit de atenção. Esta classificação em sintomas positivos e negativos têm grande utilidade para o acompanhamento e manejo farmacológico dos pacientes.

A Esquizofrenia costuma ser classificada nos tipos Paranóide (com idéias delirantes de perseguição e grandeza proeminentes e alucinações correspondentes), Catatônica (com agitação e/ou estupor, que podem se alternar, além de negativismo e posturas catatônicas bizarras), Desorganizada (antigamente chamada de Hebefrênica, com extremo prejuízo no funcionamento social e pessoal, com marcada perda de coerência e associações, podendo apresentar maneirismos particulares), e um quarto tipo, chamado Indiferenciado, onde não se observa a predominância de nenhum dos três padrões anteriores.

O início da Esquizofrenia tipicamente ocorre entre o final da adolescência e os meadas da terceira década de vida, sendo raro o início antes da adolescência ou na velhice. Nas mulheres pode ser mais comum um início mais tardio, e também há maior propensão a sintomas proeminentes do humor, assim como a um melhor prognóstico. São considerados fatores de bom prognóstico: o início agudo dos sintomas e o curso episódico; o início tardio da doença; a presença de fatores precipitantes; a presença de sintomas afetivos; as formas Paranóide ou Catatônica e um bom funcionamento social e pessoal prévio ao acometimento. De outro lado os fatores de mau prognóstico são: início precoce e insidioso dos sintomas; ausência de fatores precipitantes ou de sintomatologia de humor; a forma desorganizada e personalidade esquizóide prévia ao acometimento da doença.

TRANSTORNOS PSICÓTICOS MAIS COMUNS POR FAIXA ETÁRIA:

Adolescência(11-18 anos)  - transtornos esquizofrênicos e psicoses reativas.

Vida Adulta (18-30 e 31-64 anos)  - transtornos esquizofrênicos e psicoses reativas, na primeira etapa; transtornos afetivos ou do humor, com sintomas psicóticos, na segunda.

Velhice (65 anos ou mais) - psicoses orgânicas (síndromes cerebrais orgânicas) e transtornos afetivos do humor (depressões).

Depressão

Depressão

Todos nós ocasionalmente nos sentimos tristes ou “pra baixo”. Mas estes sentimentos geralmente têm vida curta e passam em alguns dias. Quando se tem depressão, ela interfere com a vida diária e causa sofrimento tanto para a pessoa como para os que a cercam. A depressão é comum, mas é uma doença muito séria.

Muitas pessoas com um transtorno depressivo nunca procuram tratamento. Porém a maioria, mesmo aqueles com os quadros mais graves, podem melhorar com tratamento.

Quais são as diferentes formas de depressão?

Existem diversas formas de transtornos depressivos.

O Transtorno Depressivo Maior ou depressão maior é caracterizado por uma combinação de sintomas que interfere na habilidade de uma pessoa para trabalhar, dormir, estudar, comer e desfrutar de atividades prazerosas. A Depressão Maior é debilitante e impede a pessoa de funcionar normalmente. Algumas pessoas podem ter apenas um único episódio durante a vida toda, porém o mais frequente é que a pessoa tenha múltiplos episódios.

A depressão é comum, mas é uma doença muito séria. A maioria dos que apresentam depressão necessitam tratamento para melhorar.

Transtorno Distímico ou distimia é caracterizada por um longo período (2 anos ou mais) de sintomas que podem não ser graves o suficiente para debilitar a pessoa, mas podem impedir um funcionamento normal ou a sensação de bem estar. Pessoas com distimia podem também vivenciar um ou mais episódios de depressão maior durante a suas vidas.

Depressão Menor é caracterizada por apresentar sintomas por 2 semanas ou mais que não preenchem completamente os critérios para depressão maior. Sem tratamento, as pessoas com depressão menor estão em risco de desenvolver o quadro de depressão maior, mais grave.

Algumas formas de depressão são discretamente diferentes ou podem se desenvolver sob circunstâncias especiais. Contudo, nem todos concordam em como caracterizar e definir estas formas de depressão. Elas incluem:

  • Depressão psicótica ocorre quando a pessoa tem depressão grave junto com mais alguma forma de psicose, como apresentando crenças falsas perturbadoras ou uma ruptura com a realidade (delírios), ou ouvindo ou vendo coisas desagradáveis que os outros não conseguem ouvir ou ver (alucinações);
  • Depressão pós-parto, que é muito mais grave que a chamada “baby blues” que muitas mulheres sentem após dar à luz, quando mudanças físicas e hormonais e a nova responsabilidade da maternidade podem ser angustiantes. Estima-se que 10 a 15 por cento das mulheres apresentam depressão pós-parto após dar à luz;
  • Transtorno afetivo sazonal (TAS), que é caracterizado pelo surgimento da depressão durante os meses de inverno, quando há menos exposição de luz solar natural. A depressão geralmente melhora durante a primavera e o verão. O TAS pode ser tratado efetivamente com fototerapia, mas quase a metade destes pacientes não melhoram apenas com a fototerapia ou terapia de exposição à luz. Os antidepressivos e psicoterapia podem reduzir os sintomas do TAS, tanto isoladamente quanto em associação com a fototerapia.

O Transtorno Bipolar, também chamado doença maníaco-depressiva, não é tão comum quanto a depressão maior ou a distimia. O Transtorno Bipolar é caracterizado por mudanças cíclicas do humor – de extremos altos (por ex., mania) a extremos baixos (por ex., depressão).

Quais são os sinais e sintomas da depressão?

Pessoas com depressão não sofrem todas dos mesmos sintomas. A gravidade, frequência e duração dos sintomas variam dependendo do indivíduo e da sua doença particular.

Sinais e sintomas incluem:

  • Tristeza persistente, ansiedade ou sentimentos de “vazio”;
  • Sentimentos de desesperança ou pessimismo;
  • Sentimentos de culpa, de não ter valor, de não poder ser ajudado;
  • Irritabilidade e inquietação;
  • Perda de interesse em atividades ou hobbies que antes achava prazerosos, incluindo sexo;
  • Fatiga e diminuição da energia;
  • Dificuldades para concentrar-se, lembrar detalhes e tomar decisões;
  • Insônia, despertar precoce ou sono excessivo;
  • Aumento ou diminuição do apetite;
  • Pensamentos suicidas, tentativas de suicídio;
  • Dores no corpo, dores de cabeça, cólicas e problemas digestivos que não melhoram com tratamento.

Que doenças costumam coexistir com a depressão?

Outras doenças podem surgir antes da depressão, causar a depressão ou ser uma consequência desta. Mas a depressão e outras doenças interagem de maneira diferente em diferentes pessoas. Em todo caso, doenças coexistentes necessitam ser diagnosticadas e tratadas.

Transtornos ansiosos, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, fobia social e transtorno de ansiedade generalizada, frequentemente acompanham a depressão. O TEPT pode ocorrer após a pessoa vivenciar um fato terrível, como um assalto violento, um desastre natural, um acidente, um combate militar ou atentado. Pessoas com TEPT são especialmente suscetíveis a sofrer de depressão.

Em um estudo do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH), os pesquisadores descobriram que mais de 40% das pessoas com TEPT também tiveram depressão quatro meses após o evento traumático.

O abuso ou dependência de álcool e outras substâncias também podem coexistir com a depressão. Pesquisas mostram que transtornos depressivos e abuso de substâncias ocorrem juntos com frequência.

A depressão também pode ocorrer com outras doenças médicas graves como cardiopatia, acidente vascular cerebral (AVC), câncer, HIV/AIDS, diabetes e doença de Parkinson. Pessoas que têm depressão junto com outras doenças médicas tendem a apresentar mais sintomas graves, tanto da depressão quanto da doença médica, mais dificuldades para se adaptar à condição médica e maiores custos médicos do que aqueles que não apresentam depressão coexistente. Tratando a depressão pode também melhorar o desfecho do tratamento da outra doença coexistente.

Qual a causa da depressão?

Aparentemente, a depressão é causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.

As doenças depressivas são transtornos do cérebro. As teorias mais duradouras sugerem que importantes neurotransmissores – substâncias químicas usadas pelas células do cérebro para comunicação entre si – estão desbalanceadas na depressão. Mas tem sido difícil provar isto com certeza.

As tecnologias de imagem cerebral, como a Ressonância Nuclear Magnética (MRI), têm mostrado que o cérebro das pessoas com depressão parece diferente das pessoas sem depressão. As partes do cérebro ligadas ao humor, pensamento, sono, apetite e comportamento parecem diferentes. Mas estas imagens não mostram por que a depressão ocorreu. Elas também não podem ser usadas para diagnosticar a depressão.

Alguns tipos de depressão tendem a ocorrer em famílias. Entretanto, a depressão também pode ocorrer em pessoas sem história familiar. Os cientistas estão estudando certos genes que parecem tornar algumas pessoas mais suscetíveis à depressão. Algumas pesquisas genéticas indicam que o risco para depressão resulta da influência de diversos genes agindo juntos com influências ambientais e outros fatores. Somado a isso, traumas, perda de um ente querido, um relacionamento difícil ou qualquer situação estressante pode ser o gatilho de um episódio depressivo. Outros episódios depressivos podem ocorrer com ou sem uma causa óbvia aparente.

As pesquisas indicam que as doenças depressivas são transtornos do cérebro.

Como as mulheres vivenciam a depressão?

A depressão é mais comum em mulheres do que em homens. Fatores biológicos, do ciclo de vida, hormonais e psicossociais vivenciados pelas mulheres podem estar ligados às maiores taxas de depressão entre as mulheres. Os pesquisadores têm demonstrado que os hormônios afetam diretamente a química cerebral que controla as emoções e o humor. Por exemplo, as mulheres estão especialmente vulneráveis a desenvolver depressão pós-parto após dar à luz, quando mudanças físicas e hormonais e a responsabilidade de cuidar de um recém nascido podem ser muito angustiantes.

Algumas mulheres podem também apresentar uma forma grave de síndrome pré-menstrual, chamado de transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). O TDPM é associado às mudanças hormonais que ocorrem no período da ovulação e quando a menstruação começa.

Durante a transição para a menopausa, algumas mulheres sofrem um aumento no risco para depressão. Somado a isso, a osteoporose – perda óssea – pode ser associada à depressão. Os cientistas estão explorando todas estas possíveis conexões e como os picos e quedas cíclicas do estrógeno e outros hormônios podem afetar a química cerebral da mulher.

Finalmente, muitas mulheres sofrem a sobrecarga de trabalhar fora e dentro de casa, ter de cuidar de crianças e pais idosos, abuso, pobreza e imposições sociais nos relacionamentos. Entretanto, ainda não está claro porque algumas mulheres sofrem tantos desafios e entram em depressão enquanto outras, diante das mesmas circunstâncias, não são afetadas.

Como os homens vivenciam a depressão?

Os homens frequentemente vivenciam a depressão de modo diferente das mulheres. Enquanto as mulheres deprimidas são mais propensas a sentimentos de tristeza, menos valia e culpa excessiva, os homens são mais propensos a referir muito cansaço, irritação, perda de interesse em atividades que antes achavam prazerosas e dificuldades para dormir.

Os homens também têm uma maior tendência em relação às mulheres a voltar-se para o álcool e outras drogas quando estão deprimidos. Eles também podem tornar-se frustrados, desencorajados, irritados, bravos e muitas vezes abusivos. Alguns homens se jogam no trabalho para evitar conversar sobre sua depressão com a família e amigos ou se comportam de forma imprudente. E apesar de mais mulheres tentarem o suicídio, muito mais homens morrem por suicídio nos Estados Unidos.

Como os idosos vivenciam a depressão?

A depressão não é uma parte normal do envelhecimento. Estudos mostram que a maioria dos idosos se sente satisfeita com suas vidas, apesar de terem mais doenças e problemas físicos. Contudo, quando idosos têm depressão, ela pode passar despercebida, porque estes podem apresentar sintomas diferentes, menos óbvios. Eles podem ter uma menor tendência a vivenciar ou admitir sentimentos de tristeza ou luto.

Algumas vezes pode ser difícil distinguir luto de depressão maior. O luto após a perda de um ente querido é uma reação normal à perda e geralmente não requer um tratamento por parte de um profissional de saúde mental. Entretanto, um luto complicado e que dura por muito tempo após a perda, pode precisar tratamento. Os pesquisadores continuam pesquisando as relações entre o luto complicado e a depressão maior.

Os idosos também podem ter mais condições médicas como doenças cardíacas, acidente vascular cerebral ou câncer, que podem causar sintomas depressivos. Ou eles podem estar em uso de medicações cujos efeitos colaterais contribuem para a depressão. Alguns idosos podem apresentar o que os médicos chamam de depressão vascular, também chamada de depressão arteriosclerótica ou depressão isquêmica subcortical. A depressão vascular pode ser resultado de quando os vasos sanguíneos se tornam menos flexíveis e rígidos com o tempo, tornando-se constritos. Essa rigidez dos vasos impede que o sangue flua normalmente pelos órgãos do corpo, incluindo o cérebro. Os pacientes com a depressão vascular geralmente estão em risco de desenvolverem doenças cardíacas ou derrame.

Apesar de muitas pessoa acharem que os níveis mais altos de suicídio estão entre os jovens, homens idosos com idade superior aos 85 anos possuem na verdade os maiores índices de suicídio dos Estados Unidos. Muitos possuem uma depressão que seus médicos não perceberam, mesmo sabendo que muitos destes pacientes visitaram um médico no período de um mês antes do suicídio.

Este texto foi traduzido diretamente da página sobre Depressão do National Institute of Mental Health – NIMH, site do Governo dos Estados Unidos da América.