A Ketamina (ou Cetamina, originada do inglês Ketamine) é um composto químico sintetizado pela primeira vem em 1962 para substituir o anestésico Fenciclidina (PCP), que apresentava diversos efeitos indesejáveis. Inicialmente, essa substancia foi testada com sucesso em animais e, a partir daí, seu uso se tornou corriqueiro na medicina veterinária em situações que envolvem cirurgias. Posteriormente, o seu uso como anestésico foi comprovado de forma eficaz em crianças e em pacientes que sofreram queimaduras graves, bem como também em procedimentos de baixo impacto, tais como endoscopias e cateterismo. O seu uso em pacientes pediátricos se mostrou mais eficaz devido ao seu efeito broncodilatador em crianças com quadro asmático e que necessitam de cirurgias. O mesmo efeito não é seguro em pacientes adultos, pois pode precipitar uma insuficiência cardíaca que pode levar a um infarto do miocárdio. Portanto, em pacientes adultos a Ketamina é mais utilizada em doses menores para efeitos de analgesia pré-operatória, diminuindo assim a necessidade do uso de doses mais elevadas de morfina no pós-operatório.
Observando-se esse efeito de analgesia, pesquisadores médicos encontraram um novo uso para a Ketamina. Como essa substância age como um antagonista NMDA, bloqueando esse receptor em um local especifico do cérebro de uma forma controlada, os efeitos positivos da Ketamina no controle da dor crônica parecem ser muito promissores, principalmente em comparação aos efeitos dos opioides (como a Morfina) e dos anti-inflamatórios não esteroides (AINES), já que essas substâncias possuem desvantagens significativas, tais como problemas sérios no sistema respiratório e toxidades renais e gastrointestinais, respectivamente.
Cerca de 10 anos após a síntese da Ketamina foi registrado o primeiro caso do uso desta substância como droga de abuso (ou de uso recreativo) em 1971 nos Estados Unidos. Provavelmente isso ocorreu devido à curiosidade de alguém que já sofria com problemas de drogadição, já que o registro da Ketamina no FDA (órgão americano de controle de drogas e alimentos) foi nomeado como “Analgésico Dissociativo”, ou seja, um medicamento que podia provocar efeitos alucinógenos. Desde então, o uso dessa substância para esses fins teve um crescimento alarmante, principalmente durante os anos de 1990, quando se popularizou em festas noturnas e “raves” na Inglaterra. Hoje em dia o uso da Ketamina nesses ambientes cresceu mais do que o uso de anfetaminas.
Diante disso, o FDA alterou o registro da Ketamina na década de 1990, classificando-a como “Droga de Abuso” e, a partir daí, ela passou a ser conhecida nas ruas como “Special K”, “Vitamina K” ou, simplesmente, “K”. Nessa condição, o seu uso é de altas doses, provocando um aumento exacerbado da excitação elétrica no sistema límbico e no córtex cerebral, como também elevando o tônus simpático dos gânglios da base e do hipocampo. Tais modificações cerebrais se apresentam como uma elevação do humor e da euforia, causando distorções visuais e auditivas, sensações eróticas e também a estranha sensação de “flutuação” sobre o próprio corpo.
Os efeitos são semelhantes aos da cocaína e da anfetamina, porém os usuários da Ketamina tendem a aumentar a dose de forma crescente após o primeiro uso, provocando alterações graves em todo o corpo, como vômitos, amnésia, redução da função motora, delírios com agitação psicomotora, taquicardia, bradicardia, hipotensão e depressão respiratória. Os efeitos cognitivos e psiquiátricos podem perdurar por dias ou semanas e, após uso frequente, pode provocar efeitos psicóticos semelhantes à esquizofrenia e, num quadro mais crítico, levar o usuário ao óbito.
Em contrapartida, estudos vêm demostrando que o uso clínico controlado da Ketamina em baixas doses pode auxiliar de forma importante no tratamento de usuários de Heroína, uma droga de abuso sintética, e também, da mesma forma, pode auxiliar o tratamento de alcoolistas.
Há alguns anos, em 2006, o Dr.Carlos Zarate, Chefe do Núcleo de Terapêutica Experimental e Fisiopatologia e Chefe da Seção de Neurobiologia e Tratamento de Transtornos de Humor e Ansiedade, do conceituado NIMH (Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos), formou um grupo de estudos avançados e pesquisas randomizadas sobre o uso da Ketamina no tratamento da Depressão Maior (TDM), um transtorno específico do qual os portadores raramente obtém melhoras com o uso de antidepressivos. Tais estudos cominaram na comprovação dos efeitos benéficos da Ketamina em baixa dose para o tratamento da remissão depressiva nesses pacientes.
A ação rápida da Ketamina no tratamento da Depressão Maior foi obtida com administração de doses únicas intravenosas e subanestésicas equivalentes a 0,5 mg/kg, durante 40 minutos. Mais de 70% dos pacientes responderam com 50% de melhora 24 horas após a infusão, e cerca de 35% mostraram uma resposta sustentada após uma semana. O único problema apresentado se restringe aos efeitos alucinógenos da Ketamina que, mesmo em baixas doses, ainda é visível. Sendo assim, o FDA aprovou o seu uso nesta categoria somente em ambientes ambulatoriais controlados, ou seja, as aplicações só podem ser feitas em pacientes em Clínicas especializadas na forma “Off-Label”, já que o FDA só irá incluir o uso da Ketamina para estes fins quando os efeitos alucinógenos forem eliminados da substância. Trabalhos neste sentido já estão sendo realizados desde 2012 por um laboratório farmacêutico internacional que pretende lançar um medicamento exclusivo para Depressão com base na Ketamina sem os efeitos alucinógenos, com uso oral (comprimidos), ao invés da atual aplicação intravenosa. Provavelmente, até 2025 este medicamento já estará disponível. Por enquanto, pacientes com Depressão Maior e com Transtorno de Ansiedade podem se beneficiar do tratamento Off-Label com a Ketamina injetável em várias Clínicas nos Estados Unidos e também aqui no Brasil, como por exemplo a Clínica Psiquiátrica OHR em São Paulo, dirigida pelo Dr. Ivan Barenboim, de quem eu mesma fui paciente, já que, embora eu seja Psiquiatra, também sofri durantes muitos anos com a Depressão Maior e, após me submeter ao tratamento com Ketamina, obtive uma melhora significativa. Infelizmente, há poucas Clínicas aqui no Brasil oferecendo este Tratamento e agora a Clínica Psiquiátrica Dra. Karen, a minha Clínica em Sorocaba, SP, também está oferecendo a Cetamina para tratar pacientes que sofrem com a Depressão. Somos a quinta Clínica do Brasil e a primeira do interior de São Paulo.